Os distúrbios de perfil hormonal na saúde feminina podem causar grande impacto na saúde, piorando a qualidade de vida e muitas vezes ser porta de entrada para as DCNT, doenças crônicas não transmissíveis. Neste artigo trago para vocês algo comum no consultório, que muitas vezes pode passar batido, a síndrome do ovário policístico. Também vou mostrar pra vocês como melhorar os sintomas desta doença através da alimentação e da correta suplementação, mas primeiro vamos analisar como a doença se desenvolve:
1. Patologia – Entendendo a doença
A Síndrome do Ovário Policístico, conhecida como SOP, é uma condição clínica caracterizada por alguns sintomas clássicos que interfere de 6 a 10% das mulheres em idade fértil no mundo.
- Amenorreia ou oligomenorreia (ausência ou intermitência na menstruação)
- Hirsutismo (crescimento excessivo de pelos)
- Alopecia androgênica
- Hiperandrogenismo (aumento dos níveis de hormônios androgênicos)
São sintomas clássicos na avaliação da síndrome do ovário policístico, porém um diagnóstico médico é sempre mais indicado.
Através do Critério de Rotterdan, que utiliza para o diagnóstico a ultrassonografia, exames de sangue de perfil hormonal e a avaliação do ciclo menstrual da mulher é possível identificar a síndrome.
Um fato muito importante que também deve ser levado em conta é a associação entre Síndrome do Ovário Policístico e a Resistência à Insulina. É um ciclo vicioso que acomete à mulher. Sedentarismo, sobrepeso ou obesidade e hábitos alimentares ruins pioram a SOP. Além da predisposição genética para a condição clínica, estudos observam que o ganho de peso pode acarretar no desenvolvimento da SOP, pois o ganho de gordura também piora parâmetros associados à resistência à insulina. Além da resistência à insulina, as mulheres que desenvolvem SOP correm o risco de outras doenças, como obesidade, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e síndrome metabólica.
Mas calma, a gente consegue melhorar isto com alguns ajustes na sua alimentação e a mudança de alguns hábitos, já te conto, vamos ver primeiro o porque a resistência à insulina piora o quadro ou pode ser capaz de desenvolver a SOP.
2. Resistência à Insulina – Deve ser tratada
Vamos imaginar o seguinte cenário: uma mulher que ao longo da vida, devido à rotina se torna sedentária; com maus hábitos alimentares, consumindo muitos doces, fast-food, embutidos, enlatados em excesso, refrigerantes, pizzas, salgadinhos tipo chips; faz uso de bebida alcóolica todos os fins de semana; dorme mal; se hidrata pouco; faz dietas ditas como “milagrosas”; tem o intestino com mal funcionamento; faz cortes absurdos em calorias e nutrientes; e por fim, faz uso de vários medicamentos para controlar a má qualidade da saúde.
Você se identificou em algum desses quadros? Fique atenta!
Tudo isso propicia um ambiente favorável ao ganho de peso e no descontrole da insulina, o que chamamos de hiperinsulinemia sustentada.
A Resistência à insulina piora o quadro da SOP pelos seguintes fatores: A alta da insulina mantida por um longo período estimula a produção de células de gordura, e o aumento do tecido adiposo leva ao organismo a ter dificuldades em metabolizar a insulina, fazendo com o que o pâncreas necessite ainda de mais insulina na corrente sanguínea. Esta alta da insulina estimula também, através da glândula pituitária, o aumento da liberação de um hormônio chamado LH e a redução de outro hormônio, o FSH. Com isto, há uma maior produção de testosterona no organismo. A alta da insulina também sinaliza ao fígado para diminuir a produção de uma proteína importante, a SHBG. Esta proteína tem o potencial de regular a testosterona livre no organismo, e quando seus níveis estão baixos, resulta em alta da testosterona. Este perfil sustentado por um longo período causa disfunções hormonais importantes no corpo da mulher, dentre elas os sintomas citados e o desenvolvimento da síndrome do ovário policístico.
Você sabia que uma boa alimentação com nutrientes específicos pode melhorar os sintomas da síndrome do ovário policístico?
O tratamento pode ser multidisciplinar com o uso de alguns medicamentos que melhoram a sensibilidade à insulina, como a metformina. A adesão à atividade física é crucial para a melhora nos níveis vasculares e metabólicos, bem como diminuição do peso. O diagnóstico para a resistência à insulina pode ser medido pelo Índice HOMA-IR e parâmetros de glicemia de jejum, hemoglobina glicada e teste oral de tolerância à glicose.
3. Tratando a Resistência à Insulina – Nutrição é papel chave
Através de uma alimentação balanceada, rica em frutas e vegetais, carnes e peixes magros, oleaginosas e leites e derivados pode-se inverter os sintomas associados à SOP. Este modelo de alimentação, chamamos de modelo DASH ou dieta mediterrânea vem sendo estudado e bem indicado em casos como este. Neste contexto, cito algumas melhorias práticas na sua alimentação.
- Tenha um café da manhã com frutas, iogurtes, ovos e sementes
- Enriqueça seu prato com vegetais folhosos e vegetais cozidos
- Escolha proteínas magras
- Prefira cereais integrais (arroz 7 grãos, mandioca, batatas)
- Varie nas leguminosas (feijões, grão de bico, lentilha, ervilha, etc.)
- Evite o consumo de sucos e refrigerantes
4. Os nutrientes como “remédio” na melhora dos sintomas
Alguns nutrientes já são estudados e bem fundamentados na literatura, tanto para melhora dos marcadores hormonais quanto para atenuação dos sintomas associados à SOP.
4.1 Cálcio
O cálcio é um mineral essencial à saúde feminina, pois participa ativamente na maturação dos oócitos, desenvolvimento da progressão folicular e divisão das células para formação de células uterinas. Indivíduos com deficiência mineral de cálcio também estão relacionados a resistência à insulina, pois o cálcio participa na liberação e no metabolismo da insulina. Um estudo mostrou que o tratamento da SOP com Cálcio, vitamina D e Metformina em conjunto mostrou-se melhor em regular o ciclo menstrual, folículos mais saudáveis e maiores índices de fertilização em comparação somente à metformina.
Por um outro lado, a Pesquisa de Orçamento Familiar, POF, realizada em 2018 pelo Ministério da Saúde analisou o perfil alimentar dos brasileiros, e nesta pesquisa 96% das pessoas estavam consumindo muito menos cálcio do que o recomendado pelos órgãos de saúde.
Veja como esta associação tem tudo a ver com a SOP
Você consome alimentos ricos em calorias, porém pobre em nutrientes, o que além do ganho de peso, deixa você desnutrida.
4.2 Magnésio
O Magnésio está relacionado ao metabolismo energético; síntese de RNA e DNA; metabolismo da insulina; na estrutura das membranas celulares e no crescimento de células saudáveis. Por ter uma participação neuronal, o magnésio está relacionado também com melhoras nos quadros de introspecção e melhora do humor, bem como dores de cabeça. Um estudo suplementou magnésio coadjuvante a outros nutrientes por 12 semanas em mulheres com SOP. Após o período estudado, os pacientes obtiveram melhora no perfil hormonal, nos marcadores de inflamação e melhora nas funções enzimáticas antioxidantes.
4.3 Vitamina D
Essencial para o metabolismo e crescimento ósseo, regula a produção de serotonina (hormônio do bem estar), e atua na imunidade. A vitamina D vem sendo utilizada para melhora na saúde da população e indivíduos que são acometidos pela SOP podem se beneficiar muito com esta vitamina. Estudos vem relacionando baixos níveis de vitamina D em pacientes que tem sobrepeso e obesidade e resistência à insulina, e tem sido usada como alvo terapêutico para a melhora neste quadro. Além de melhorar a relação entre saúde e hiperinsulinêmica na SOP, alguns estudos observam que a utilização da vitamina D pode regular o perfil hormonal da mulher, diminuindo os sintomas da doença.
5. Como melhorar a SOP através da alimentação?
Esqueça agora tudo o que você já viu sobre restrição calórica e cortes absurdos em grupos alimentares que fazem parte da sua rotina. Vamos começar no básico. Antes de retirar vários alimentos da sua rotina, comece tendo uma rotina alimentar fixa. Comer nos horários certos em quantidades certas evita com que você fique beliscando a todo momento, para isso um Plano Nutricional feito por um nutricionista é de excelente valia.
Você deve incluir na sua alimentação pelo menos 3 porções de leites e derivados magros para garantirmos a oferta de cálcio mínima recomendada, mas se você tem o perfil vegano, vegetais verdes e alimentos com base em soja te ajudam neste contexto. Deve incluir também pelo menos 3 frutas diferentes na sua rotina.
As frutas possuem o que chamamos de fitoquímicos, que são moléculas que vão ajudar o seu corpo a combater os Radicais Livres e compostos ruins no organismo.
Quando for almoçar, coloque vegetais e salada de folhas em pelo menos 50% do seu prato, as fibras e as vitaminas vão fornecer ao seu organismo nutrientes para melhorar os sintomas da SOP.
Não esqueça da janta! Trocar o jantar por lanches faz você consumir muito mais calorias do que nosso aclamado arroz com feijão, e além disto não promove saciedade. Se você não tem tempo nenhum para realizar esta refeição o ideal é você começar a repensar a sua vida e onde está a sua saúde nas prioridades.
Pare de consumir refrigerantes, bolos, salgados e álcool em excesso. Você precisa pensar na sua saúde agora.
Observe que incluindo bons alimentos na sua rotina não haverá espaço para alimentos ruins.
6. Suplementação – Litho Calcium
O Litho Calcium pode ser um aliado na sua rotina para a melhora dos sintomas da SOP, pois além de ter 96% das necessidades em 3 capsulas, possui o magnésio. Os dois minerais em conjunto atual em sinergia para a melhora da doença. Além disto, possui mais outros 70 minerais e elementos traço que são essenciais à saúde humana, como o ferro, silício, manganês e molibdênio. A sugestão de uso é tomar 1 capsula 3x ao dia em momentos distintos, como por exemplo o café da manhã, almoço e jantar. Litho Calcium e sua saúde tem tudo à ver.
7. Para pensar
Aqui vão as dicas finais para melhorar sua saúde:
- O que eu ando comendo está me ajudando ou está atrapalhando a minha saúde?
- Como posso ser mais ativa fisicamente e sair do sedentarismo?
- Eu tenho um sono de qualidade, ou estou sempre agitada?
- Tenho me hidratado corretamente?
- Devo procurar um nutricionista para me ajudar na rotina alimentar?
Conhecer-se é o primeiro passo para entender o problema e encontrar soluções.
Gustavo Guerra – Nutricionista Clínico e Esportivo | Guerra Nutrição
CRN.MG 9. 20826
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